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domingo, 19 de abril de 2015

Uma criança pode ver dois homens se beijando?

criança-homossexualidade
O primeiro evento gay realizado em um parque temático em São Paulo anos atrás foi um sucesso absoluto, principalmente na aceitação de funcionários e do público do parque que acabou levando a família sem saber que o dia seria "gay".


Claro que o evento não agradou a todos e pouquíssimas famílias reclamaram. Uma das indignações que acabei escutando foi "Meu filho é uma criança, não pode ver dois homens se beijando!!"


Não sei como é isso aos olhos dos outros, mas no meu caso, que sou bacharel em psicologia e conheço grande parte do processo psíquico do ser humano, principalmente de uma criança, achei que varias coisas deveriam ser esclarecidas. E porque não na forma de um artigo? Onde poderia ser lido e recomendado para muitas outras pessoas?


Voltando a indignação do pai acima, eu pergunto, será que é tão terrível para uma criança ver 2 homens se beijando? Será que ela realmente não entenderia?


Antes de responder, vamos ver dois exemplos.


O primeiro deles é sobre uma amiga minha e do meu namorado, heterossexual, simpatizante e que freqüenta balada GLS sempre que pode com a gente e com um de seus familiares que também é homossexual. Ela tem uma filha de 7 anos e sempre quando vem em casa insiste em dizer a sua filha que nós dois somos primos e nunca namorados. Até ai ela é a mãe e acredita estar educando corretamente sua filha.


O segundo exemplo é de outro amigo, estudante de direito que pretende trabalhar com homossexuais quando se formar. Certa vez me contou que seu filho de 5 anos ao ver ele conversando com um casal gay sobre união civil chegou em casa e perguntou se os dois eram namorados. O pai respondeu que sim. O filho perguntou se isso poderia. Ele então disse que sim, homem com homem e mulher com mulher também namoravam e viviam juntos, mas que a sociedade não falava muito sobre isso. Seu filho entendeu este simples, sincero e verdadeiro esclarecimento e encerrou o assunto. Talvez o tenha futuramente de forma mais complexa, mas sua curiosidade foi sanada naquele momento de forma correta.


Bem, entre um exemplo e outro podemos observar que a diferença entre as duas atitudes é que no primeiro caso a mãe, por mais "simpatizante" que seja e desencanada com a homossexualidade, tem medo de contar a verdade para sua filha. Talvez porque no fundo acredite (sem ter total consciência disso) que a homossexualidade ainda é algo ruim e inaceitável. Tanto que esconde isso de sua filha e projetando seu medo sobre ela. Afinal, “nós somos primos e nunca namorados”.


Esse medo também remete a outro. Se a homossexualidade não é apenas uma vertente da sexualidade humana, é algo negativo e ruim, tenho medo que minha filha se torne homossexual quando crescer, principalmente se souber da verdade dos dois ou mesmo ver duas pessoas do mesmo sexo se beijando.


Esse é o medo de muitos pais. Uma criança que ver duas pessoas do mesmo sexo se beijando irá querer fazer a mesma coisa quando crescer. Pois bem, eu nasci e cresci vendo casais heterossexuais se beijando na rua, na televisão, em parques e em vários lugares, no dia e na noite, muitas vezes por dia durante mais de 20 anos e nem por isso tive desejos ou vontades "heterossexuais".


Estes dois exemplos são ótimos para para dizer que uma criança será homossexual ou não independente de qualquer coisa. O que vai diferenciar é que ela sofrerá mais ou sofrerá menos de acordo com a aceitação dos pais sobre os desejos que sente por pessoas do mesmo sexo. Dependendo do caso, nem precisará sofrer.


Um fato é certo. Devemos sempre ser sinceros com as crianças em suas perguntas. Principalmente sobre a sexualidade humana. Neste momento lembro de um um caso apresentado no livro "O desenvolvimento da Personalidade" de Carl Gustav Jung onde ele descreve todo o processo psíquico de uma menina de 3 anos quando sua avó lhe explica que todo bebê é trazido por uma cegonha. Fábula popular contada por milhares de pais "mentirosos" por todo o mundo. Nas primeiras páginas do livro Jung descreve como a menina descobriu a verdade (por associações próprias) durante dois anos e no final, quando imagina corretamente como são criados diz a sua mãe "Os bebês são trazidos pela cegonha!". Ela já sabe a verdade mas pensa, porque irei falar a verdade aos adultos se eles mentiram pra mim o tempo todo?


Concluindo, o medo dos pais sobre uma criança ver ou saber sobre homossexuais ou casais homossexuais é apenas uma transferência deste medo sobre elas. Caso a criança seja educada corretamente e com informações sempre verdadeiras, ela terá uma maior consciência do mundo em que vive, não terá seus pais como mentirosos (mais cedo ou mais tarde ela acabará descobrindo a verdade) e poderá se desenvolver da melhor forma possível.


Caso tenha alguma dúvida sobre como educar seus filhos corretamente, principalmente quando o assunto for sexualidade humana, consulte um profissional especializado (psicólogo, psiquiatra, educadores, etc) que entendam profundamente deste assunto. A regra básica é "fale sempre a verdade" juntamente com "Nunca minta ou omita qualquer informação".


Uma criança educada corretamente se tornará um adulto saudável e pronto para a vida com todos os momentos bons e ruins que ela venha a oferecer. Pense nisso.


Fabrício Viana


Fabrício Viana é bacharel em Psicologia e autor do livro O Armário (sobre a homossexualidade , com mais de 4 mil exemplares vendidos), Ursos Perversos (contos homoeróticos), organizador da Coletânea LGBT não erótica chamada Orgias Literárias da Tribo e autor Theus (romance homossexual). Seus livros nãos são vendidos em livrarias, apenas em seu site pessoal  www.fabricioviana.com ou no site da Editora Orgástica www.editoraorgastica.com





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2 comentários:

  1. Ei Fabricio, acredito que um erro gramatical passou despercebido, no trecho "pensa, porque irei falar a verdade aos adultos se eles mentiram pra eu o tempo todo?" O correto seria "pensa, porque irei falar a verdade aos adultos se eles mentiram pra mim o tempo todo?"

    Espero ter ajudado, gostei muito do tema.

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  2. homossexualidade.Org17 de junho de 2015 às 08:08

    Olá Bruno. Obrigado pela atenção.

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